Duas realidades: da praia à capital

Saio de casa e não cheira a maresia. O barulho do mar passou a buzinas e barulho de veículos. Não saio de casa de pijama para ir à mercearia mais próxima e já não vou “num instante ali, seja de que forma for”. Não porque não posso, mas porque não me sinto confortável

Há dois meses e meio rumei à capital. Já tinha ‘saído de casa da mãe’ há um ano e meio mas agora “era a sério e longe”. Ouvi várias versões, muitas perspetivas e, na verdade, não sei com qual me identifico mais. Somos todos diferentes e acabamos por, consoante a forma como vemos as coisas e o local onde estamos inseridos, sentir tudo de forma diferente.

Lisboa foi, desde cedo, um sítio onde sempre tive muita curiosidade de viver e que sempre disse: “Acho que vou amar!”, e é certo: a capital enche-me a alma e faz de mim uma pessoa mais feliz. No entanto, a azáfama diária, a falta de tempo, o stress e o caos mexem com a pessoa acelerada que sou por natureza, de uma forma incrível. Não muda a forma como vejo a cidade e muito menos o amor que sinto mas viver ‘longe’ do [meu] mar custa-me mais do que alguma vez pensei. Não me esqueço de ter ouvido alguns vieirenses comentarem comigo e até com outras pessoas: “Só quando saíres daqui darás valor”, “Enquanto aqui estiveres não vais entender o quão bom isto é”… E assim foi! Precisei de sair do ninho, estar longe, para entender como um mega pôr do sol da Praia da Vieira e uma caminhada à beira-mar me fazem falta. Aqui posso caminhar, posso sair de casa e tenho ‘o mundo’ à distância de meia dúzia de paragens do metro… Mas não sinto que tenho a calma, a paz e a serenidade. As tais que sinto em casa.

Estou na cidade das oportunidades. Na cidade mais populosa do país. E apesar disto, sinto-me imensas vezes sozinha, mesmo estando rodeada de pessoas. Não porque me falta companhia, mas porque me falta a maior sorte que tive na vida: estar a 100 passos da areia, abrir a janela pequenina do quarto e conseguir ver o horizonte.

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